quarta-feira, 2 de julho de 2014

Pessoas boas morrem cedo


É com freqüência (e desde criança) que escuto a frase “pessoas boas morrem cedo”, dito com um tom de revolta como se fosse uma das maiores injustiças que existem no mundo. E continuam falando que pessoas ruins continuam vivas, elas é que deveriam morrer e não as boas. É um mundo cruel, um Deus injusto.


Tenho certeza que você já ouviu algum comentário do tipo, ou já pensou ou falou algo assim. Mas o que você sabe sobre essas pessoas que recebem o rótulo de “boas”? O que você sabe sobre a história de vida delas? O que você sabe sobre os sentimentos vividos por esta pessoa? Tenho certeza que não sabe a resposta de nenhum desses questionamentos. Você só sabe que ela era uma boa pessoa e pronto, não merecia sofrer ou morrer tão cedo.

Sofrer e morrer todos nós vamos, ser boa ou má pessoa não é critério de escolha. Morrer e sofrer são critérios da vida, são as condições por estarmos vivos. O que está vivo, morre. Apenas a forma do sofrer e do morrer é resultado de uma escolha sua. Não há mudança nisso, são questionamentos sem respostas.

O que percebo é que as pessoas boas “engolem sapo” a vida inteira, suportam a tudo e a todos, caladas, dizendo “sim” forçadamente quando o seu íntimo grita por um “não”. Aceitando o que não se quer aceitar e ainda tentam enganar a si mesmas com o conformismo da frase “é assim mesmo”.

Talvez sejam pessoas que nunca conseguiram desenvolver autonomia para a mudança. Que foram educadas para caminhar como um ser passivo. Sem ser ativo no mundo, o corpo não gasta a energia que tem gastar, ela se acumula. E como todo acúmulo ou excesso, uma hora transborda. Como? Adoecendo. Às vezes ainda tem jeito. Às vezes é tarde demais. A vida vai clamar por equilíbrio.

O que o corpo não gasta, ele somatiza. E num passivo “engolir de sapos”, o corpo vai somatizando. Não é algo de um ou dois dias. É algo de uma vida inteira. Não há ação, só reação manifesta com o adoecer. De olhos vendados, as pessoas boas seguem acreditando que é preciso aceitar, que é assim mesmo, que a vida é difícil e não há possibilidades. Acreditam que devem engolir tudo que lhes é atirado.

A pessoa não reage. “Fulano é tão bom, foi humilhado à vida toda e nunca revidou, sempre vivendo em ‘paz’ com ele mesmo”. Enquanto isso, as contestações internas fazem do seu corpo um campo de guerra, uma batalha árdua que pode ter um fim trágico com intenso sofrimento e dor (física e emocional). Para a dor física há remédios, e para a dor emocional o que há?

Nossas emoções se revelam no nosso corpo. Os mecanismos conscientes e inconscientes agem rapidamente e nossas células manifestam cada mínimo detalhe desta ação/reação. É você refletindo como você é, como você funciona, como você enxerga a si e o mundo, e não simplesmente por imposição – “porque é assim mesmo”. É só você sendo você mesmo.

Portanto, se você for rotulado como essa tal pessoa boa, reavalie-se! 





[Suzanne Leal]

terça-feira, 1 de julho de 2014

Sou eu ou é mundo?

- o início


Quando eu era criança acreditava haver um mundo além das estrelas, além daquele lugar fechado e áspero, e um dia eu conseguiria alcançá-lo. Eu acreditava em vida pura, livre de negatividade, do tipo que a gente fecha os olhos e abre os braços ao vento. Do tipo que se solta às pernas no ar no vai e vem do balanço. Do tipo não pouco se importa se o vestido ou o cabelo está bagunçado.

Essa é uma das preciosidades que a infância expressa em si. Carregada de sonhos, leveza e espiritualidade, ser criança consiste em ser puro, alto e sincero. É poder enxergar toda a doce candura da natureza. É ser livre pra ser o que quiser durante o dia e à noite dormir abraçado com a lua. É deixar a imaginação inspirar a vida e aninhar a própria alma de doçura.

É um tempo raro, poucos o vivem realmente, e por vezes, este tempo é roubado, se esquece e se perde, ou nem se quer começa a existir. Perder sua própria criança é perder metade da fé na liberdade, na simplicidade, no homem humanizado. É perder um mundo contornado por sonhos e por sorrisos livres. É expressar um sorriso forçado em que os caminhos significativos se dissipam pelo vento.

Quando se é criança o mundo é livre de insignificâncias, cheio de valores e tão enorme quanto os corações acalentados. O olhar para o mundo é expansivo, tudo é maior do que parece ser. Os caminhos são simples e os passos são soltos, leves e cheios de energia. E quanto mais vento para tocar os braços e bagunçar os cabelos, melhor.







[Suzanne Leal]